O monstro Leviatã


Aconteceu em um determinado momento da minha vida. A luta veio tempestuosa e sem pedir licença, invadiu meus planos e os transformou em algo estranho e totalmente destoado das expectativas que reinavam meu ser. Senti que as minhas maiores aspirações, planos e projetos permaneciam no mundo dos sonhos sendo permeados por um sono profundo, o qual me separava da realidade desejada arrebatando meu coração a um lago de profundas tristezas e questionamentos sem respostas, onde habita uma das mais terríveis de todas as criaturas, a figura mais mística e aparentemente mitológica da qual ouvi dizer através de fonte segura. Trata-se de um monstro denominado Leviatã, o qual em meio à algumas lágrimas, o Senhor mostrou através da sua palavra.

Descobri que o monstro supracitado vive a espreita de nossa existência e por vezes percebemos sua presença e voracidade. Às vezes ele fica adormecido, então pensamos ter encontrado a felicidade plena e a paz suprema, passando a nos sentir como se vivêssemos em um pedacinho do céu. Mas o monstro desperta sempre que percebe ser necessário, sendo tal necessidade diferente do que possamos imaginar. Na verdade se ele tem fome, esta não se consegue explicar e sua força descomunal não se pode mensurar, uma vez que se alguém o ferir não lhe causará danos permanentes, pois para ele o ferro é palha e o cobre pau podre.

Os sentimentos mais nobres e seletos da humanidade não fazem parte da característica básica desta fera. Ele não suporta ouvir palavras brandas onde habita o amor, não suporta ouvir o barulho das crianças que não param de brincar, ou qualquer tipo de gratidão e ação de graças, bem como louvor e coração puro. A amizade o incomoda, a alegria o irrita, a sinceridade e a fidelidade são palavras dilaceradas por sua mais perpétua irracionalidade, uma vez que ele é o pai de todas as violências existentes, sendo o seu coração firme como uma pedra.

Não se pode travar sua língua com uma corda, traspassar-lhe o nariz com uma vara de junco, ou furar-lhe as bochechas com um gancho. Com ele não se pode pleitear, direcionar súplicas ou palavras brandas afinal, não há acordo de sua parte. Possível será que o homem venha ao solo apenas em vê-lo e se um toque for dirigido a ele, tal ser jamais se esquecerá da peleja e contra ele não mais intentará.

Há terror em redor dos seus dentes e as fileiras de suas escamas são seu orgulho. Incapaz se faz o homem em abrir sua forte mandíbula ou em penetrar sua couraça dobrada, a qual impossibilita que se desvende seu dorso coberto. Cada espirro que emite faz resplandecer luz, sendo seus olhos como a pestana da alva. Da boca lhe saem chamas e faíscas são lançadas involuntariamente, sendo que das suas narinas fumaça procede. Seu hálito incrível faz acender os carvões e na sua presença salta o desespero. Eis finalmente a descrição do impetuoso monstro Leviatã.

Ao tomar conhecimento desta criatura, os questionamentos povoaram minha mente. Como seria possível eu estar vivendo em meio às lágrimas, clamar socorro dos céus e a providência divina e em contraposição receber uma mensagem torturante como esta. Um monstro mais que desafiador da minha capacidade racional de entendê-lo, ou das minhas forças em detê-lo. Não consegui entender como seria possível pelejar contra tal “coisa” ou mais duvidoso ainda, vencê-lo.

Por um determinado período de tempo me resguardei de forçar o entendimento, porém não tive dúvidas de que o Senhor dos Exércitos estava a me dizer algo muito importante, então supliquei para que me desse discernimento e pudesse compreender com a clareza dos altos céus. Eu queria vencer tal criatura e me encontrei em um emaranhado neutralizante da mais nobre consciência. Mas Deus em sua infinita misericórdia e bondade não permitiu que eu ficasse sem respostas por muito tempo. Na mesma fonte de descrição desta fera, ele me respondeu que tudo o que há debaixo dos céus à ele pertence e que ele não se cala a respeito deste monstro, de seus fortes membros, da sua força real e nem da graça da sua compostura. Neste momento entendi que as minhas armas eram inúteis, a minha força vã e que a vitória somente vem do Senhor, Criador dos céus e da Terra. Compreendi que a criatura referida neste texto não era carnal e sim espiritual e como tal deveria ser interpretada e analisada, bem como as armas a serem direcionadas á ele em peleja deveriam ser igualmente espirituais.

Realizei á partir deste momento uma auto análise e me surpreendi ao descobrir que não estava utilizando as armas espirituais que o Senhor me disponibiliza todos os dias. Ficou claro que para obter vitória me faltava a espada cristã e a armadura de Deus. Era preciso entender que o Senhor pelejaria por mim, apesar das as armas estarem em minhas próprias mãos. O Senhor me fez entender, que orar é preciso e extremamente indispensável e que a carga que sentimos carregar somente será aliviada se dividirmos com Ele. Jesus está nos dizendo, por intermédio desta experiência pessoal, que não importa o nome do monstro que assombra nossas vidas, ou a grandeza do seu terror, nem mesmo sua fama avassaladora ou a dimensão da sua perseguição contra os filhos do Deus Altíssimo. Importa apenas que creiamos que Ele está no controle das nossas vidas, porque a luta não é contra a carne e sim contra o espírito e que somente à luz da sua palavra poderemos buscar o seu poder por intermédio da oração.


Lucinéia Costa

Inspirado no livro de Jó, Cap. 40 e 41

Um comentário:

edson disse...

Parabéns pela matéria.Veio como um bálsamo.Obrigado.