Matéria publicada no UOL
Cathy Lynn Grossman
Deus está nos punindo. Os anjos da guarda nos protegem. A Terra está em grave perigo.
Foi o que descobriu uma pesquisa recente da Universidade Baylor sobre as crenças e práticas religiosas dos norte-americanos. A pesquisa, que será divulgada hoje, foi baseada em entrevistas com 1.700 adultos, realizadas no outono de 2007.
Meio ambiente
Os evangélicos não se preocupam tanto com a mudança climática global. A maioria dos entrevistados na pesquisa sobre religião da Baylor concorda que "se não mudarmos as coisas de forma dramática", a mudança climática global será "um desastre" (67%); o carvão, petróleo e gás natural irão acabar (70%) e a maior parte das plantas e da vida animal será destruída (57%).
Mas os protestantes evangélicos têm bem menos tendência (55%) do que os outros grupos religiosos a se sentirem alarmados com a mudança climática global ou com a previsão de destruição da vida se o homem não mudar (49%).
Enquanto 56% dos adultos dos EUA dizem que o governo não está gastando o suficiente para ajudar e proteger o meio ambiente, o número de evangélicos que têm a mesma opinião é menor - 41%, segundo o sociólogo F. Carson Mencken, da Universidade Baylor.
De fato, os evangélicos são pelo menos duas vezes mais propensos a dizer que o governo já está gastando muito com o meio ambiente do que qualquer outro grande grupo religioso. Entre os que tendem a dizer que os gastos são muito pequenos estão os judeus, 81%, e as pessoas sem filiação religiosa, 79%.
"É o fim do mito do movimento ambientalista evangélico", diz Mencken. "Isso não quer dizer que os evangélicos são anti-ambientalistas, mas que seu apoio à causa ambiental não é tão forte quanto entre outras tradições religiosas."
O ambientalismo tem sido um tema controverso entre os evangélicos. Quando a Associação Nacional de Evangélicos lançou o "Chamado para a Ação" contra a mudança climática em 2006, alguns religiosos conservadores, liderados por James Dobson da organização Foco na Família, opuseram-se com veemência.
Gênero e política
As mulheres devem participar da política? O tema divide profundamente os americanos.
A pesquisa revelou que a sociedade americana está bastante dividida em relação aos papéis da mulher na sociedade, e isso pode influenciar as eleições de novembro.
Por exemplo, 33% dos americanos dizem que "a maioria dos homens estão mais preparados emocionalmente para a política dos que a maioria das mulheres". 44% dos protestantes evangélicos concordam com isso, mais do que outros cristãos e muito mais do que os judeus (29%), outras religiões (23%), e pessoas sem religião (14%).
Os dados da Baylor foram reunidos em 2007, quando a senadora Hillary Clinton lutava pela nomeação como candidata pelo partido Democrata, muito antes que a governadora do Alaska, Sarah Palin, fosse nomeada para a vice-presidência da candidatura republicana, chamando atenção para a questão da maternidade e de gênero. Palin é mãe de cinco filhos, incluindo uma criança com síndrome de Down.
Os dois candidatos republicanos são protestantes evangélicos (John McCain é batista e Palin não tem uma denominação específica). O candidato do Partido Democrata, Barack Obama, é protestante (Igreja Unida de Cristo), e seu vice, o senador Joe Biden, é católico apostólico romano.
A pesquisa também revelou:
- que 41% disseram que as crianças em idade pré-escolar sofrem se suas mães trabalham fora (54% dos evangélicos defendem isso, quase o dobro dos outros grupos).
- que 31% disseram que "é o desejo de Deus que as mulheres tomem contas de seus filhos" (48% de evangélicos).
Essas visões podem definir os votos? "As pessoas podem sustentar esses valores sociais, mas nem sempre isso se traduz nas urnas", diz Lauren Winner, professora-assistente de espiritualidade cristã na Universidade Duke. "Apesar de a visão conservadora em relação aos gêneros ser uma peça fundamental da visão de mundo evangélica, ela não é o principal fator para as pessoas - como é o aborto.
"As pessoas podem relevar a contravenção de Palin em relação aos papéis tradicionais - uma mãe que pode ir para a Casa Branca - agarrando-se à sua posição clara contra o aborto".
A tragédia e o mal
Deus causa ou permite "que grandes tragédias aconteçam, como um aviso aos pecadores", dizem 20% dos adultos dos Estados Unidos.
Enquanto 43% dizem que o maior mal é causado pelo diabo, 47% discordam - num empate estatístico.
Mas a maioria (68%) não diria que a natureza humana é essencialmente má.
Então onde é que o mal reside - no diabo ou na espécie humana? A pesquisa Baylor, que permite respostas sobrepostas, descobriu que 36% concordam com ambas as definições.
"Aqueles que acreditam que Deus causa ou permite que coisas ruins aconteçam não disseram que as tragédias são culpa de Deus", diz o sociólogo de Baylor Christopher Bader.
Segundo Bader, as pessoas disseram que "as tragédias são nossa culpa. Nós pecamos enquanto nação, e Deus não impediu que coisas terríveis acontecessem."
Entre as perguntas que o reverendo Rick Warren fez para ambos os candidatos à presidência em seu Fórum Civil sobre a Presidência em Saddleback, estava: "O mal existe?". Ambos os candidatos disseram que sim.
O senador Barack Obama disse que é "tarefa de Deus eliminar o mal do mundo", mas que "nós podemos ser soldados nesse processo."
O senador John McCain disse que "o mal deve ser derrotado", e relacionou-o totalmente com o "desafio transcendente do século 21 - o extremismo radical islâmico."
Fonte: Pesquisa Baylor de Religião, Insituto de Estudos da Religião, Universidade Baylor. Baseado em pesquisa com 1.700 adultos no outono de 2007; a margem de erro é de 4 pontos percentuais para mais ou para menos.
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