Líderes protestantes também fazem oposição a alguns pontos da nova Constituição, assim como os católicos. Os pastores Francisco Loor e Nelson Zavala declararam que pelo menos 200 artigos da Constituição são imorais. Além disso, apesar de se dizer um Estado secular, o texto evoca uma deidade indígena: “Nós, o soberano povo do Equador, celebramos a natureza, a Paccha Mama, da qual somos parte e que é parte vital da nossa existência.”
Eles também contestaram a declaração do presidente Rafael Corrêa de que a oposição da Igreja era antiquada. Funcionários do governo, incluindo Corrêa, criticaram duramente os líderes da Igreja por sua posição e acusaram os clérigos de disseminar informações erradas nos sermões sobre os documentos.
“Esta é uma Constituição que defende a vida”, disse Corrêa. “O texto é claro. O mais é simplesmente ignorância ou má-fé em continuar jogando o jogo dos grupos que querem poder”, disse o presidente.
Augusto Barrera, coordenador entre o Executivo e a Assembléia Constituinte, disse: “Não é verdade que a Constituição favorece o aborto. Ela sem dúvida protege a vida e estabelece proteção e cuidado desde o início, isto é, da concepção”. Ele também acusou a Igreja de estar ligada a organizações de oposição à Corrêa e sua aliança com o presidente de esquerda da Venezuela Hugo Chávez.
Rafael Corrêa também questionou a posição da Igreja com relação à liberdade religiosa apresentada no documento. “A nova Constituição reconhece o direito de uma pessoa praticar, manter, mudar ou professar sua religião em público ou em particular e compartilhá-la com outros”, disse ele.
O arcebispo de Guayaquil, Antonio Arreguis, disse que a Igreja está preocupada com a liberdade religiosa e o direito da igreja de funcionar livremente. “Nós não entraremos em uma discussão com o presidente e nem limitaremos nosso direito de livre expressão, incluindo a expressão de nossas crenças religiosas”, disse ele. “Nós iremos trabalhar para influenciar a consciência dos cristãos sobre estes assuntos. Cada cidadão é livre para tirar suas próprias conclusões sobre como eles devem votar”.
Deidade Indígena ou estado secular?
Além disso, a menção de uma deidade indígena, Paccha Mama, na Constituição proposta contribuiu para a divergência entre o presidente do Equador com os líderes católicos romanos e os protestantes. “Nós tememos que esta invocação de uma deidade inca, a Paccha Mama [Mãe Terra], um ser divino para os grupos indígenas, seja uma adoração a Paccha Mama”, disse o pastor Loor, que lidera uma igreja da Assembléia de Deus na cidade portuária de Guayaquil. “Incluir isso na Constituição é um retorno a centenas de anos atrás quando fogo e ar eram adorados”.
Além disso, o pastor Loor acusou que a inclusão da Paccha Mama contradiz o novo documento apresentado como sendo secular. A nova Constituição, que foi aprovada no último mês de julho por uma assembléia eleita, será votada em um referendo nacional em 28 de setembro, registra em seu prefácio: “Nós, o soberano povo do Equador, celebramos a natureza, a Paccha Mama, da qual somos parte e que é parte vital da nossa existência.”
O capítulo do documento sobre direitos da natureza declara: “A existência da natureza, ou Paccha Mama, onde nós reproduzimos a vida, tem o direito de ser respeitada”.
Carlos Pilaminga, um dos representantes na Assembléia Constituinte do partido político indígena Pachakutik, acusou protestantes e católicos romanos de não entenderem a “cosmovisão indígena”. Paccha Mama, disse ele, não é uma deidade, mas “é um espaço eterno onde nós vivemos e do qual somos parte. Pachakamak é nosso criador, o que os católicos chamam de Deus e os evangélicos [protestantes] chamam Jeová.” “Nossos irmãos evangélicos não compreendem nossa religiosidade e espiritualidade”, acrescentou Pilaminga.
A Constituição tem sido controversa no Equador e internacionalmente porque tem sido vista como consolidadora do poder do presidente sobre vários setores do governo, incluindo o sistema bancário e aos tribunais de Justiça. O documento também permite que Rafael Corrêa concorra a mandatos adicionais.
Pesquisas recentes indicaram que a Constituição está tendo maior aceitação, mas ainda não ganhou apoio suficiente para ser aprovada. A aprovação necessita de 50% mais 1 voto dos que participarem do referendo.
Fontes: Portas Abertas
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